Pela primeira vez, Zamp deve conseguir conciliar os investimentos em restaurantes com geração de caixa

A Zamp, operadora das redes Burger King e Popeye’s no Brasil, acelerou a abertura de restaurantes, alcançando uma marca simbólica da retomada pós-pandêmica. A companhia inaugura ainda este ano sua loja de número 1 mil e está pronta para retomar o ritmo anual de abertura de unidades anterior à covid-19 (cerca de 100 por ano).

Quando os shoppings fecharam naquele fatídico mês de março de 2020, o Burger King foi uma das empresas mais prejudicadas por sua concentração nas praças de alimentação. Em comparação à Arcos Dorados, master franqueadora do McDonald’s na América Latina, a Zamp dependia muito mais dos shoppings que das lojas de rua — que possuem a vantagem inegável do drive thru e da logística mais fácil para o delivery.

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Inicialmente, a Zamp apertou os cintos para resistir ao tempo com restaurantes fechados, mas assim que a economia começou a reabrir a empresa pôs em marcha um plano mais concentrado na abertura de lojas de rua. Do início deste ano até setembro, o grupo abriu 13 lojas (entre Burger King e Popeye’s).

No quarto trimestre, esse ritmo aumentou, passando de 50 lojas. Com as inaugurações em curso nos próximos dias, deve passar de 70 novos restaurantes em 2022, atingindo a projeção que a Zamp indicou aos investidores. “É um marco muito importante e isso parecia inatingível em 2011. E como não poderia deixar de ser, a loja 1 mil será em São Paulo, onde tudo começou”, disse o CEO da Zamp, Ariel Grunkraut, ao Pipeline.

A aceleração na abertura de lojas ocorre num momento em que a Zamp apresenta alguns dos melhores indicadores financeiros de sua história. A companhia bateu recorde de margem bruta no terceiro trimestre (64,1%) e o faturamento também é o maior da história (R$ 3,5 bilhões em doze meses até setembro).

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Pela primeira vez na história, a Zamp vai conseguir conciliar o ritmo de abertura de lojas sem precisar tomar dívida, o que é relevante num momento de custo de capital bem mais salgado. “Nos últimos dez anos, não tínhamos geração de caixa suficiente para subsidiar os investimentos e precisava de captação, mas a partir de 2023 nosso crescimento inteiro será suportado pela geração própria de capital”, revelou Grunkraut.

Quando analisa os números do McDonald’s e, principalmente, a dinâmica da indústria de fast fodd no Brasil, o CEO da Zamp ainda vê uma avenida larga para a expansão de Burger King e Popeye’s. “Vários estudos mostram com certa tranquilidade que temos espaço para dobrar. Estamos na metade do que poderíamos ser”, disse o executivo.

Em São Paulo, por exemplo, a diferença entre Burger King e McDonald’s em restaurantes de rua supera 100. Em capitais como Salvador e Fortaleza, o BK ainda tem pouquíssimas unidades, o que indica um espaço para avançar.

Além disso, o Brasil apresenta uma dinâmica diferente de outros países com características semelhantes. No mundo, as grandes redes de fast food costumam representar entre 70% e 90% do mercado. Por aqui, é o oposto, mas essa dinâmica vem mudando, o que explica o ganho de market share de Burger King e McDonald’s (que também está abrindo novas lojas) nos últimos anos. Neste ano, a Zamp atingiu a maior participação de sua histórica.

Por enquanto, a melhora dos indicadores ainda não refletiu na bolsa. Pelo contrário. No ano, os papéis da dona do Burger King caíram 13%, com a companhia avaliada em apenas R$ 1,4 bilhão. Num relatório divulgado ontem, os analistas do Itaú BBA chamaram atenção para o múltiplo (EV/Ebitda 2023) de apenas 5,6 vezes, o ponto mais baixo da história da companhia.

“É uma das ações de restaurantes mais baratas do mundo”, escreveu o time de analistas comandado por Joaquin Ley. Em uma ação tão descontada para uma companhia que vem mostrando melhora operacional, não é surpresa que principais acionistas (fundos como Atmos e Vinci) tenham recusado com tanta ênfase a oferta de aquisição do Mubadala.

 

Escrito Por Luiz Henrique Mendes
Fonte: Pipeline Valor
Dona do Burger King acelera abertura de lojas — já são mil no Brasil
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