Abordada por concorrentes, a família Rocha começou a levar a sério a perspectiva de uma fusão no varejo

A Guararapes, controladora da Riachuelo, estuda uma fusão com uma de suas concorrentes no varejo de moda no país. Nos últimos meses, buscando fortalecer seu negócio com uma operação mais ampla e diversificada, a companhia da família Rocha abriu conversas com a Arezzo e com a SBF, dona da Centauro. Mas, além de encontrar um parceiro com quem tenha sinergias operacional e cultural, os Rocha querem manter a posição majoritária, segundo fontes – um desafio extra para um M&A.

A avaliação de consolidação tem sido estimulada no setor pelo cenário de taxa de juros alta, inflação e inadimplência, e por incertezas sobre as diretrizes da política econômica – um conjunto de fatores que tem pressionado as ações das varejistas em bolsa.

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Outra motivação para a Riachuelo se mexer é que os irmãos Flávio, Lisiane e Élvio Rocha, com cerca de 27% de participação cada um no negócio, têm interesses diferentes na companhia, desde a morte de Nevaldo Rocha, o patriarca fundador do negócio, em 2020 – ainda que a movimentação atual, segundo fontes, não tenha sido iniciada pela empresa.

Enquanto Flávio Rocha e seus filhos são os mais engajados na companhia e não aceitam abrir mão do controle, Élvio, que não participa das decisões do dia a dia da empresa, Lisiane e os filhos são mais flexíveis em relação à venda de posição majoritária, segundo fontes.

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As conversas entre Riachuelo e Centauro foram superficiais. Com a Arezzo, que recentemente agregou vestuário às operações, chegou-se a abordar potenciais sinergias e estruturas – mas a tratativa não foi adiante, por uma avaliação da família Birman de “falta de fit”. Tanto Centauro quanto Arezzo continuam buscando outras oportunidades de M&A.

Com a sondagem dos concorrentes, a Riachuelo começou a admitir a perspectiva de uma transação e contratou o banco Safra como assessor financeiro. Houve interesse de fundos de private equity, mas a família tem preferência por uma transação com estratégico, não um sócio financeiro. Neste momento, não há uma oferta na mesa, mas a varejista não descarta retomar as conversas com os rivais mais adiante, disseram as fontes.

Também neste ano, a varejista holandesa C&A sondou potenciais interessados em comprar sua operação brasileira. No início do ano, chegou a ser oferecida à Riachuelo. Na visão de uma pessoa familiarizada com as varejistas, a combinação entre C&A e Riachuelo seria “um abraço de afogados”, uma vez que ambas tiveram desvalorização das ações, têm sobreposição de lojas e haveria pouca sinergia. No caso da Arezzo e Centauro, essa mesma fonte avalia que há complementariedades.

Em abril do ano passado, dois movimentos agitaram com o setor. O grupo Soma comprou a Hering por R$ 5,1 bilhões. A operação envolveu dinheiro e troca de ações, desbancando uma proposta da Arezzo. Naquele mesmo mês, a Renner levantou R$ 4 bilhões no mercado de capitais para expandir seus negócios. À época, as especulações eram quais seriam os alvos de M&A da Renner – falando-se em C&A e Riachuelo – mas a empresa não fez nenhuma aquisição de peso.

Sem controlador e com valor de mercado de R$ 20 bilhões, a Renner poderia ser uma conversa óbvia para a Riachuelo, com a família Rocha se tornando acionista minoritário de referência. Mas o conselho de administração da companhia, defensor do modelo de corporation, não vê uma transação desse tipo como o melhor caminho para a empresa hoje – o que serviria mais para tirar um concorrente de mercado do que efetivamente agregar aos negócios, cheios de sobreposições, disse uma fonte próxima à varejista.

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O grupo Guararapes vale, em bolsa, R$ 3,1 bilhões – uma queda de quase 40% em um ano e de quase 70% em cinco anos. As conversas entre Riachuelo e concorrentes foram antecipadas ontem pela Bloomberg, o que fez o papel da varejista fechar com queda de 10% hoje. C&A cai 65% no ano, grupo SBF cai 40%, Renner cai 12% e Arezzo sobe 5%.

Para manter os requisitos inicialmente desejados pela família Rocha, o desfecho teria que se dar com uma companhia de porte semelhante – como a Centauro, com mesmo valor em bolsa -, absorvendo uma companhia menor em market cap, como a C&A, ou alinhando um bloco em acordo de acionista, no caso de uma empresa com o valor superior como a Arezzo, hoje de R$ 8 bilhões. “Não é uma amarração simples. Ou vira aquisição ou venda”, avalia uma fonte do setor.

Procurado, Flávio Rocha não retornou ao pedido de entrevista. Arezzo, Centauro e Safra não comentaram o assunto. Em nota, a Guararapes informou que “está sempre atenta a oportunidades de mercado que tragam valor aos acionistas” e afirmou que isso não envolveria mudança no controle da companhia. A C&A disse que não comenta rumores ou especulações de mercado e afirma que “segue intensamente focada no desenvolvimento dos seus planos de negócios no país”.

 

Escrito Por Mônica Scaramuzzo e Maria Luíza Filgueiras
Fonte: Pipeline Valor
A Riachuelo procura um par
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