O centro de São Paulo vem passando por transformações graduais nos últimos cinco anos, tanto na parte nova, com restaurantes e bares badalados, como na parte velha.

Esta última, que conta com o recente shopping Pátio Metrô São Bento, passou a receber também minimercados, que têm se misturado aos habituais escritórios e ao comércio tradicional local.

Desde 2015, redes como o Carrefour e Hirota têm inaugurado unidades na região no formato mini ou express, em locais como a rua Líbero Badaró e Senador Queiróz (no entorno do Mercadão Municipal) e na Praça do Patriarca.

A procura por esse formato de loja tem se ampliado de tal forma que, desde janeiro passado, duas lojas concorrentes, a terceira do Carrefour na região e uma da rede espanhola Dia, passaram a funcionar uma de frente para a outra, na rua Álvares Penteado, próxima à estação do metrô São Bento.

A chegada e expansão dos mercados de vizinhança à região é parte de um movimento muito maior de mudança de hábitos do consumidor e sua crescente demanda por por compras rápidas de conveniência e emergência no trajeto de casa ou do trabalho, segundo Marco Hirai, sócio-diretor da GS&BGH Real Estate.

“É um formato que se adapta bem nas regiões centrais, repleta de escritórios. Se a pessoa não preparou nada para consumir durante o dia ou tem que levar para casa, é onde compra mistura, ou o jantar ou o café da manhã”, diz. É um consumo mais imediatista, que você compra quando está perto do metrô, no trajeto de volta para casa, e economiza tempo.”

Como briefing que as redes usam para buscar pontos, segundo Hirai, é o alto fluxo de pessoas que passa na frente à loja todos os dias. “Esses mercados até acabam se sobrepondo, mas mesmo assim, eles sempre têm público.”

Diferente do mercado, onde o consumidor compra o que vai consumir ao longo do mês ou da semana, ou do hipermercado e do atacarejo, que é ao longo do mês, nesse formato minimercado ele compra basicamente o que vai consumir no mesmo dia, afirma.

“Na rotina corrida da maioria das pessoas, é um formato que faz muito sentido.”

E dá para atender a todo tipo de necessidade, segundo o especialista: no Hirota, o chamariz são as refeições prontas, que podem ser esquentadas e consumidas no local. Já os minimercados de redes como Carrefour, Pão de Açúcar e Dia vão mais na pegada de loja de conveniência, que oferecem produtos e serviços, como caixa eletrônico ou wi-fi grátis. Em todos, além das habituais bebidas, refeições e lanches, há produtos de limpeza, higiene pessoal e até itens pet. “O que estamos vendo em todo o Brasil é uma corrida das redes para se espalhar e chegar cada vez mais perto do consumidor -a chamada hiperconveniência. Ou seja, é quando ele está o mais perto possível da necessidade do cliente”, afirma Hirai.

Marco Alcolezi, diretor de operações do Carrefour Brasil, confirma. Próximo de chegar a 200 lojas nos formatos Express, Bairro e Market em todo o país, a tendência de vender alimentações rápidas e oferecer conveniência a consumidores nos centros – inclusive da capital paulista – já é uma realidade. E deve continuar, pois faz parte do seu Plano Global 2022 de crescimento.

“Estar próximo do cliente, com sortimento assertivo e serviços que facilitem seu dia a dia é essencial”, diz. “Porém, como os consumidores são diferentes e possuem variados momentos de compra, é fundamental investir em formatos de loja complementares e serviços integrados para estar próximo e preparado para quando ele precisar”, completa.

Até o leiaute é desenvolvido para garantir essa agilidade de compra que o consumidor demanda, segundo Alcolezi. “Por isso o formato Express é desenvolvido a partir do hábito de compra dos consumidores, com produtos organizados de forma a facilitar sua localização, levando em consideração características e demandas do local onde está inserido.”

Marco Hirai afirma que, na verdade, a ascensão dos minimercados está acontecendo em todos os grandes centros brasileiros, e não só em São Paulo. No caso do centro da capital paulista, especificamente, existe uma dificuldade enorme em encontrar uma grande superfície para montar um mercado maior – o que favoreceu a expansão dos formatos de vizinhança.

“A maneira de marcar presença com esse público é com mercados menores. Portanto, muitas vezes acaba sendo coincidência eles estarem próximos, não é nada planejado”, diz, fazendo referência aos fronteiros Carrefour e Dia.

Porém, apesar existirem há mais de 30 anos nos EUA, a expansão dos minimercados é um fenômeno recente no Brasil e difundido há menos de cinco anos em São Paulo, segundo Hirai.

“O Brasil recebeu esses mercados de vizinhança tardiamente. No exterior, é muito mais massificado. Mas, mesmo redes como AM PM e Seven Eleven, no começo, acabavam fazendo um pouco esse papel de atender à compra de conveniência.”

O que atrasou um pouco a expansão dos minimercados é que esse tipo de comércio, a princípio, ficou estigmatizado como ‘loja de posto de gasolina’, levando tempo até que eles saíssem dos postos para a ocupar espaço nas ruas. “Hoje, em função das necessidades diárias, o consumidor não vai mais ‘estocar’ comida”, reforça Hirai. “Por isso, mesmo sendo um fenômeno recente, o formato veio para ficar.”

Tem espaço pra todo mundo?
Apesar do sucesso do formato no Centro, um revés: mesmo bastante concorrida, a unidade do Dia, que funcionava em frente ao Carrefour Express (também sempre movimentado), encerrou as atividades há cerca de um mês.

A pergunta: será que a concorrência pesou? Procurada, a rede Dia não informou o motivo do fechamento da loja, porém informou, por meio da assessoria de imprensa, que está “passando por uma grande transformação no país” e que “novidades virão em breve”.

Uma reportagem publicada no jornal Valor Econômico no último dia 14 de maio dá uma ideia do que aconteceu – e que vai muito além da mera concorrência com o vizinho: a rede espanhola fechou 113 lojas no Brasil nos doze meses anteriores, sendo que 38 fechamentos de franquia ocorreram entre janeiro e março passado. Ao mesmo tempo, foram abertas 21 lojas no período.

Quanto às lojas próprias, foram 91 aberturas e um fechamento nos últimos doze meses. O movimento faz parte do processo de migração do modelo franquias para lojas próprias que a rede menciona em seu último balanço, mas sem entrar em detalhes.

Independente da transformação estrutural pela qual passa a rede Dia, a dúvida persiste: até que ponto vale a pena abrir uma loja do mesmo formato em frente à concorrência? Alexandre Van Beeck, sócio-diretor da GS&Consult, afirma que há espaço sim para abrir uma loja em frente à outra, e quem vai dizer não é o mercado em si.

“O fato de o Dia ter especificamente fechado essa loja não tem a ver com o Carrefour estar em frente a ela, mas uma questão de conjuntura do negócios do Dia, uma dificuldade que a rede está passando não só no Brasil, mas também em sua sede, na Espanha”, reforça.

Em contrapartida, o próprio Carrefour e o Pão de Açúcar (com suas lojas Minuto) estão crescendo rapidamente nesse formato, assim como a rede Hirota, se expandindo com suas Food Express, e até as lojas de conveniência em postos de combutível, que têm acelerado cada vez mais essa expansão – como as da rede AM PM Mini Market, a segunda maior franquia do país segundo ranking da Associação Brasileira de Franchising (ABF).

O especialista lembra ainda que, hoje, com oportunidades vindas dos meios digitais, como a Rappi, que utilizam a capilaridade dessas lojas -, o modelo se fortalece não só pela presença física, mas por essas soluções digitais de terceiros, que não são varejistas mas ajudam a oferecer conveniência para o cliente que compra das lojas próximas à sua casa ou seu trabalho.

“O mercado está crescendo muito, então tem espaço para novos competidores, sim. Inclusive para uma loja que está em frente à outra”, diz Van Beeck. “Porém, é preciso ter uma operação muito redonda e um sortimento muito adequado, além de oferecer níveis de serviços aderentes àquilo que o cliente espera”, completa. Gestão é tudo.

 

Fonte: Newtrade
Concorrência entre lojas de vizinhança chega ao centro de São Paulo
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