Na venda local, varejista ensaia entrega no mesmo dia da compra
Das duas mil fábricas que a Shein quer ter no Brasil, 200 já estão em plena operação, todas em parcerias com unidades de produção de terceiros. O país, forte consumidor da marca, pode se tornar também polo exportador da varejista.
“A Shein não é uma empresa chinesa, é uma empresa global”, diz Marcelo Claure, CEO da companhia na América Latina. “Não tem que ser da China para o mundo. Meu sonho é que seja do Brasil para o mundo todo, porque aqui temos ótimos produtos. Queremos que, em breve, seja um meio de exportação para a América Latina.”
O Brasil foi o primeiro país fora da China a ter fabricação da Shein — depois de iniciada a operação no país, o grupo passou a produzir também na Turquia. A empresa tem aqui 45 milhões de clientes, mais de um terço da população adulta do país e do seu total de consumidores no mundo inteiro, hoje em 160 milhões de pessoas. Além da demanda, a Shein também se viu pressionada politicamente, na discussão de tarifas de importação.
Claure se reuniu presencialmente com o presidente Lula e o ministro Fernando Haddad para explicar as intenções da marca por aqui, desde que a União anunciou que passaria a tributar compras importadas, numa tentativa de proteger o produto interno. Na ocasião, foram prometidas duas mil fábricas e a geração de 100 mil empregos no país até 2026.
“É importante seguir as regras do jogo”, reforçou Claure hoje, em painel no evento Digitalks, em São Paulo. “Mas algo que não acredito é nessa diferença: se você tem dinheiro e vai pra Miami, pode comprar até mil dólares em roupas e trazer pra cá. Não tem lógica. O segmento da Shein é justamente a classe que tem menos poder aquisitivo. Cobrar imposto de quem não pode pagar e não cobrar de quem viaja ao exterior, não faz sentido.”
Mas ele argumenta que a vantagem competitiva da Shein vai muito além do preço. O modelo de negócios da plataforma permite desenhar, produzir e entregar um produto num intervalo de sete dias, enquanto a maior parte das concorrentes ainda trabalha com o conceito de estações, defende. Um dos planos mais ousados da marca para o Brasil é entregar peças em poucas horas.
“A gente terá a capacidade de vender no site às 15h e entregar à noite. O Brasil é muito bom em micrologística, tem empresas como Loggi e os próprios Correios, que é uma máquina gigante incrível”, disse, elogiando o serviço público de entregas. “Minha mensagem para o varejista brasileiro é: não brigue com o modelo digital”, completou, alfinetando a concorrência.
Claure conheceu a marca observando o comportamento das cinco filhas — a mais velha tem 28 e a mais nova, cinco. Ao verificar a fatura dos cartões de crédito no fim do mês, a repetição infinita do mesmo nome: Shein, Shein, Shein.
Ao conhecer o modelo de negócios, gostou da empresa e pegou um avião para a China para conversar pessoalmente com os funcionários e gestores das fábricas. Ali, viu o que considera uma das empresas mais disruptivas no mundo. No início do ano, o executivo investiu US$ 100 milhões na Shein por meio de seu family office. De passagem pelo Brasil até o fim da semana, o executivo vai visitar fábricas e centros de distribuição no país.
Escrito Por Manuela Tecchio
Fonte: Pipeline Valor