Por que encontrar o ‘par perfeito’ pode ser uma missão difícil e como a companhia está se movimentando
A proposta da Aliansce pela BR Malls colocou a única corporation do setor no centro dos mapeamentos do mercado. Já que a rejeição da fusão trouxe, entre seus argumentos, a indicação de que a empresa pode conseguir algo melhor, analistas e acionistas tentam antecipar o que seria. Numa fusão alternativa, no entanto, os desenhos iniciais indicam que pode ser difícil encontrar um príncipe encantado – a companhia está à procura. Mandatado, o Itaú BBA também sonda o interesse em ativos específicos, dizem fontes. No meio tempo, a Aliansce tenta ganhar os acionistas, que mantêm a demanda por ajuste de preço.
No jargão financeiro, white knight é a estratégia de defesa a uma oferta hostil, quando a companhia alvo encontra uma transação amigável como alternativa, buscando prêmio e manutenção do time. Um dos nomes mais aventados no mercado para o papel do cavaleiro, pelo porte que tem e por já ser listado, possibilitando troca de ações e poupando caixa, se
“É um developer. As únicas coisas que ele comprou foram participações adicionais em shoppings que já tinha, mas nunca ativos inteiros ou portfólio”, nota uma fonte. Há alguns anos, cogitava-se que Peres podia seguir um caminho de M&A como alternativa sucessória e chegou a ter uma aproximação da BR Malls da gestão de Carlos Medeiros – hoje, a conversa interna é que seu filho Eduardo deve ocupar a cadeira.
No Iguatemi, uma reestruturação recente abriu caminho para que os Jereissati façam aquisições sem perder o controle do negócio. Também ativa em desenvolvimento, a companhia tem concentrado portfólio nos ativos de luxo, o que faz alguns gestores entenderem que um portfólio mais heteregêneo como o da BR Malls não seria alvo da companhia neste momento.
Bancos de investimento bateram à porta tanto de Multiplan quanto Iguatemi oferecendo crédito para o negócio, e tiveram sugestões descartadas, disseram fontes. É sempre possível, claro, que as duas companhias revejam suas cartilhas.
Empresas nacionais de capital fechado que já tiveram na mesa de negociação com a BR Malls voltam ao radar. A melhor aposta, na visão de analistas, é Ancar, companhia controlada pela Ivanhoe com a família Carvalho. “Para sair negócio, alguém vai ter que ceder”, diz um executivo. Ancar e BR Malls tentaram alinhavar uma fusão há dois anos, mas acabaram sem consenso. A Ancar teria cerca de 40% do negócio, ao entrar com seu portfólio total; a BR Malls preferia uma segregação de determinados ativos, reduzindo a diluição de sua base na composição final.
Uma das líderes na região Nordeste, a JCPM, dos Paes Mendonça, também sondou recentemente as grandes companhias do setor para um M&A. Já houve conversas também com a Almeida Junior – nesse caso, a BR Malls se manteria com controle, com Jaimes Almeida como minoritário. “A questão das duas companhias é a expectativa de valuation dos donos. Esse histórico de conversas, inclusive com a Ancar, mostra como é difícil chegar num ponto ideal”, diz uma fonte.
A BR Malls também pode buscar estrangeiras – no passado, Unibail-Rodamco e Westfield andaram sondando ativos por aqui (agora, são uma empresa só), bem como a americana Simon. Na visão de investidores, essas companhias nacionais e estrangeiras seriam os potenciais cavaleiros (ou príncipes encantados na versão mais abrasileirada) para uma alternativa à Aliansce. Grey e o dark knights – os sapos – seriam companhias que podem se beneficiar de uma união de negócios mas não agregam à BR Malls, como a CCP, e potenciais investidores abutres.
Há uma outra possibilidade já na mesa, que pode agitar a base acionária da BR Malls. Na cartilha do M&A, vender uma das joias da coroa pode ser uma forma de indicar o valor do portfólio, ao corrigir os múltiplos conforme a transação fechada. Como a avaliação do lado de BR Malls é que os múltiplos estão depreciados, seria possível conseguir uma avaliação “mais real” em um único ativo, já que atrairia um número maior de players.
O Itaú sonda o interesse em três shoppings, apurou o Pipeline: Plaza Niterói, Villa Lobos e Tamboré. Quem teve acesso a números diz que o ativo de Niterói tem a maior receita operacional líquida (NOI) do portfólio, o ativo de Alphaville seria o quarto e o de São Paulo, o décimo. Esses ativos variam entre R$ 750 milhões e R$ 1,2 bilhão de valor patrimonial líquido (NAV), segundo fontes.
“A companhia não tem perfil de projetos mas também não feito aquisições. Não vejo como a venda de ativos relevantes para o resultado possa ser uma boa estratégia de médio e longo prazo”, diz um gestor com posição na companhia.
Assim como o mercado, o banco mandatado pela BR Malls segue montando esse mosaico. Uma fonte lembra que a empresa não virou alvo de uma oferta não solicitada por estar em algum tipo de crise de administração – diferentemente do que aconteceu lá atrás na gestão Medeiros, quando houve um desgaste na fase final, a base de acionistas e os analistas que cobrem a companhia consideram positiva a administração conduzida por Ruy Kameyama.
Isso significa que a companhia não necessariamente precisa de uma transação e poderia continuar seu caminho solo. A disposição da Aliansce, no entanto, é costurar com a base de investidores da BR Malls um quórum suficiente para que o tema chegue, em algum momento, a uma assembleia de acionistas. A sinalização de alguns fundos, até o momento, é que há disposição em negociar uma proposta – para dois gestores, o preço é ruim, mas um desfecho negociado pode ser bom.
A única coisa que parece consenso é que, entre príncipes e sapos, o fim dessa história soa distante.
Escrito Por: Maria Luíza Filgueiras
Fonte: Pipeline Valor