Companhia anunciou ajustes na oferta no domingo mas ainda não formalizou à concorrente; acionistas veem prêmio pequeno no preço
Desceu quadrado na administração da BR Malls e em parte da base a acionária a nova proposta anunciada pela Aliansce no domingo – e, passadas 48 horas, ainda não recebida pela empresa. “É isso?”, disse um gestor que vê lógica no negócio mas aguardava um ajuste de preço. “Não vejo sentido em levar mais de dois meses para apresentar um preço que é cerca de 2% acima do preço de tela da última sexta-feira”, disse uma fonte da empresa.
A Aliansce anunciou que vai elevar em 10,9% o preço para combinação de negócios, considerando a relação de troca de ações e a parte caixa, sobre a proposta feita em janeiro. Administração e acionistas da BR Malls, no entanto, estão olhando para a cotação atual da companhia, que subiu 14%. Para a Aliansce, a alta se explica justamente pela expectativa de transação. Para a BR Malls, há outros fatores envolvidos, considerando que concorrentes como Multiplan e Iguatemi e o Ibovespa também subiram no período.
A Aliansce enviou um comunicado ao mercado ontem de manhã informando que pretende formalizar a nova oferta, mas até o momento não fez apresentação à BR Malls desses detalhes, segundo fontes. A Aliansce antecipou os novos termos ao Pipeline no domingo, depois que o colunista Lauro Jardim, de O Globo, informou sobre os próximos movimentos a caminho. “Ainda estamos preparando a formalização dessa nova proposta, mas resolvemos apresentar os termos gerais para evitar ruídos de mercado”, explicou o CEO da Aliansce, Rafael Sales, no final de semana.
Aliansce eleva preço por BR Malls e vai convocar assembleia
Nessas 48 horas, acionistas com cerca de 40% das ações da BR Malls (e posições individuais acima de 5%) manifestaram à administração sua insatisfação com a nova proposta, segundo fontes. O Valor indicou ontem, após ouvir alguns desses investidores, que o entendimento de alguns fundos relevantes na base era de um ajuste ainda insuficiente. “Continua tendo um bloco de controle sendo formado, com pouco mais de 23%, sem prêmio sendo pago por esse controle”, entende uma fonte.
A linha segue a mesma: veem racional para o negócio, mas discutem preço. Não havia uma sinalização ainda da Aliansce, nas conversas com investidores, de que patamar de ajuste poderia ser apresentado. Gestoras como Squadra, Velt, Atmos e Capital International estão entre os maiores acionistas da corporation — lembrando que a própria Aliansce tem 5,5% da BR Malls. Fontes próximas à Aliansce, por sua vez, avaliam que a base de apoio à proposta estaria na casa dos 15% a 20%.
Se as contas de ambos os lados estiverem corretas, há ainda uns 40% de indecisos, que as empresas vão ter trabalhar para ter suas avaliações distintas submetidas a uma assembleia extraordinária. Como acionista da BR Malls, a Aliansce já avisou que pretende exercer seu direito de chamar AGE para votar a matéria.
“Chamar AGE é um risco. Estou seguro de que, se chamarem nesses termos que indicaram e ainda não propuseram, vão tomar uma surra”, diz uma fonte próxima à administração da BR Malls. “Se tivessem tanta certeza de ganhar no voto, já tinham partido antes para assembleia.”
A Aliansce já deu o recado de que a nova proposta será seu último preço. Mas também disse que vai continuar ativa como acionista caso a oferta seja rejeitada, indicando uma chapa para o conselho da BR Malls em abril – o que foi lido por alguns investidores como forma de pressionar a atual administração. “A racionalidade econômica vai prevalecer. Estamos lidando com fundos que tem responsabilidade de cuidar da poupança de instituições e indivíduos e não vão se decidir por picuinhas ou cismas individuais”, avalia uma fonte da BR Malls.