NOVAREJO conversou com especialistas e varejistas para entender o que o setor está fazendo para evitar a perda de bilhões por falta de processos
A cadeia de fornecimento do varejo é longa e complexa. Durante a jornada do produto do fornecedor até o ponto de venda muita coisa acontece. No meio do caminho, o produto pode estragar, outros podem quebrar, embalagens podem ser amassadas. Na loja, itens podem ser roubados e furtados. Há itens que nunca saem dos estoques. Cada situação dessa pode parecer erros operacionais pontuais, mas juntas representam bilhões em perdas no varejo.
O último levantamento sobre o tema, realizado pelo Ibevar (Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo), mostra que o índice de perdas no Brasil chega a 2,25% – ou seja, 2,25% do faturamento líquido das empresas varejistas ao final de 2016 foram para o lixo. O número é representativo: para se ter uma ideia, somente o faturamento das 350 maiores empresas do setor alcançou os R$ 493 bilhões em 2016, segundo o Ranking NOVAREJO Brasileiro. Aplicando esse porcentual de perdas entre essas empresas, o valor jogado no lixo chegaria a R$ 11 bilhões – e, veja, estamos falando apenas das 350 maiores redes do País.
De olho nesses números, o Magazine Luiza, um dos maiores varejistas do País, tem investido na área de prevenção de perdas, com foco na redução de roubos e furtos. Desde 2015, a companhia instalou nas lojas cadeados eletrônicos, especialmente em smartphones e tablets para evitar furtos. No acumulado de janeiro a dezembro de 2016, a companhia reduziu as perdas totais e registrou ganhos de R$ 86,6 milhões com a iniciativa.
Apesar de representar boa parte das perdas no varejo, os roubos e furtos estão bem longe de representar a maior parte dessas perdas. “Geralmente o mercado se prende a roubos e furtos externos, mas é o que acontece dentro do negócio que pode gerar mais perdas”, afirma Anderson Ozawa, especialista em perdas e coordenador do Comitê de Prevenção de Perdas do Ibevar.
Mas o que gera perdas?
“A lista é grande do que gera perda. Temos desde a quebra de produto, roubo de funcionários, roubo de clientes, falta de registro no caixa, embalagens com problemas. Há várias falhas operacionais”, afirma Marcelo Tupan, COO da Tlantic. “A falta de gestão de estoque é um grande problema. As margens são baixas e qualquer percentual de perda em cima de estoque tem um impacto grande na operação. Essa variável é mais sensível para o varejo e é onde está a grande parte financeira das lojas. Em prevenção de perdas, é preciso olhar o estoque de vários ângulos”, afirma.
Os erros começam pela mensuração do problema. Para se ter uma ideia, os números do Ibevar ou de qualquer outra instituição não são precisos. Primeiro porque nem todas as redes mensuram as perdas e as que mensuram têm o desafio de conhecer a origem delas. “O varejo ainda é avesso a dar informações. No caso de perdas, ou eles mentem ou omitem, mas o setor tem visto a necessidade de começar agora a mensurar de verdade, porque esses números fazem a diferença na linha final”, afirma Luiz Fernando Sambugaro, especialista em prevenção de perdas e diretor de comunicação da Gunnebo.
“Quando falamos em quebra, não existem estudos quantitativos médios, porque a variação é muito grande. Isso depende do nível de maturidade de gestão da loja, do próprio controle de estoque, da gestão de categorias”, afirma Luiz Muniz, fundador da Telos Resultados. “Você encontra níveis de quebra que representam 1,5% do faturamento, mas existem empresas com níveis de perda de 15%”, afirma.
“A cadeia de abastecimento em si carrega vários motivos para a geração de perdas. Faltam processos para fazer os controles nos processos logísticos, faltam planos de gerenciamento de risco, até para entender se o motivo da perda foi uma fraude do processo de caminhão ou se foi na loja”, afirma Ozawa.
Escrito Por: Camila Mendonça
Fonte: Novarejo