Controlador da cadeia de restaurantes Madero, o Grupo Durski deve avançar num plano de abertura de três novas redes no país, após finalizar um projeto de reestruturação de suas dívidas. O processo passa pela emissão de R$ 380 milhões em debêntures da Madero Indústria e Comércio, a serem subscritas pela gestora Hemisfério Sul Investimentos (HSI), que contatou fundos neste mês para verificar demanda pelos títulos no mercado, apurou o Valor.
A expectativa é que parte dos recursos entre em caixa no fim do mês – metade do montante deverá pagar emissões de
títulos anteriores. A operação deve ser fechada depois que o grupo decidiu não vender uma fatia minoritária para o L Catterton, o maior fundo do setor de consumo do mundo.
Com pouco mais de R$ 510 milhões em receita bruta em 2017 – alta de 67% frente a 2016 – e 110 restaurantes, o grupo do fundador Luiz Renato Durski Junior, mais conhecido como Junior Durski, controla as redes de hambúrgueres Madero e Jeronimo. A empresa fechou 2017 com lucro de R$ 4,8 milhões, após perda de R$ 65 milhões no ano anterior.
A renegociação das dívidas foi aberta em busca de reforço de capital, considerando o atual consumo de caixa do negócio, em fase de aberturas de unidades. Eram cerca de R$ 7 milhões como saldo de caixa em dezembro – e cada loja custa, em média, R$ 4 milhões. Desde 2015, a empresa tem aberto 15 pontos, em média, ao ano.
Apesar da necessidade de capital para investimentos, há um aumento na geração da linha de Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), com efeito na queda da alavancagem. O múltiplo dívida líquida por Ebitda reduziu para duas vezes em 2017, ante três vezes em 2016.
A emissão de debêntures anterior tem juros anuais em 30% (com pagamento mensal), versus 18% da nova emissão. Foram operações em duas tranches anteriores, em 2015 e 2017, com a HSI subscrevendo os títulos na soma de pouco menos de R$ 200 milhões.
Na operação atual, são R$ 380 milhões em debêntures, com prazo de vencimento de cinco anos e carência de dois anos. Entre as garantias estão, por exemplo, 51% das ações da empresa, além de todos os recebíveis. Com a entrada do novo capital, R$ 200 milhões liquidam as emissões anteriores e a metade restante vai para o caixa – concluindo, com isso, um processo iniciado pelo grupo um ano atrás.
Com nova estratégia, fundador continuou com 91% de negócio e avalia abertura de capital em dois anos
No início de 2017, o grupo contratou o Itaú BBA para buscar sócios, mas não houve acordo. “Não era um momento bom, ainda havia muita instabilidade e interrompemos o contrato com o Itaú BBA”, afirma Durski. No fim do ano passado, com a melhora do ambiente de negócios, conversas foram iniciadas exclusivamente com a L Catterton, o maior fundo do setor de consumo do mundo, cujo um dos sócios é o bilionário francês Bernard Arnault.
As conversas avançaram para a venda de 13% da rede, avaliando a empresa em quase R$ 3,1 bilhões e considerando um múltiplo de 15 vezes o Ebitda previsto para 2018. Junior Durski tem 91% da Madero e o empresário Luciano Huck, 0,6% – o restante está com funcionários. Um empréstimo ponte ainda estava sendo considerado.
Paralelamente a essas negociações, o empresário retomou contato com a HSI para uma nova emissão de debêntures. “Eles [HSI] quiseram manter a parceria”, afirma Durski, sem detalhar a mudança de estratégia. Manteve sua posição de 91% (em troca de um emissão de dívida) e avalia uma oferta pública inicial de suas ações (IPO) num prazo de cerca de dois anos. “É algo que devemos trazer para discussão entre 2019 e 2020”, diz, quando a empresa prevê valor de Ebitda de R$ 400 milhões.
Seu projeto de expansão prevê três novas marcas, com preços menores do que os praticados pela rede Madero: Vó Maria, com receitas alemãs; Choripan, que venderá o sanduíche argentino de mesmo nome por R$ 12; e uma terceira rede de hamburguerias, chamada provisoriamente de New Burguer.
A ideia é abrir lojas próprias em praças de alimentação de shoppings. Nas duas primeiras, as inaugurações começam este mês. Já a New Burguer deve começar a funcionar em abril, no Shopping Estação, em Curitiba. A rede vai concorrer com Burger King e McDonald’s, com cheeseburgers a R$ 9,80, e o combo, com batata-frita e refrigerante, a R$ 21.
Além disso, devem ser abertos este ano 29 novos restaurantes Madero. A outra marca do grupo, Jeronimo Burguer, criada no ano passado, deve ganhar mais 12 pontos. A estimativa do grupo é alcançar R$ 1,1 bilhão em vendas brutas em 2018, diz Durski, acima das previsões do mercado, na faixa de R$ 800 milhões.
Parte do ganho vem de uma mudança na estratégia de preços cinco anos após o lançamento do primeiro restaurante
Madero, em 2005. “Tínhamos seis unidades e acumulávamos prejuízos, então no fim de 2010 entendi onde errávamos. Decidi mexer em preço. O cheeseburguer passou de R$ 29 para R$ 19, cortamos custos. O volume começou a crescer em 2011.”
Em 2015, o empresário iniciou uma reestruturação mais profunda no negócio, após a contratação do atual diretor
financeiro. “A margem era muito pequena”, conta Durski. “Nossa taxa de desperdício em 2015 era de 15%, e hoje está em 0,6%”, afirmou. “Perdíamos produto por bobagem. Colocávamos 30 gramas de alface no sanduíche e isso afetava a qualidade do pão. Fizemos ajustes em várias frentes.”
Um dos focos passou a ser ganhar em volume vendido, e não na evolução do tíquete. “O valor do meu tíquete médio em São Paulo está R$ 52. Sabe quanto o paulista gasta em locais comparáveis? R$ 70, R$ 80. Mas não quero aumentar isso, eu quero elevar tráfego”, diz.