O grupo J&F, dono da JBS, fechou no dia 12 de julho, a venda do controle da Alpargatas – dona da Havaianas – para Itaúsa (holding de investimentos do Itaú) e Cambuhy/Brasil Warrant (braços de investimento da família Moreira Salles), por R$ 3,5 bilhões em dinheiro. A venda foi negociada por causa da necessidade da J&F se capitalizar para arcar com obrigações relacionadas ao acordo de leniência que os irmãos Joesley e Wesley Batista fecharam com o Ministério Público Federal (MPF), que acarretará o pagamento de R$ 10,3 bilhões em 25 anos.
Desde o fim de junho, Cambuhy e Itaúsa negociavam com Joesley Batista a aquisição da Alpargatas – além da Havaianas, a companhia é responsável pela marca Mizuno no País e também controla a Osklen, rede de moda de alto padrão.
O negócio estava pronto para ser fechado no fim de semana anterior, mas o acordo foi adiado porque os compradores queriam mais segurança jurídica, disse uma fonte. Essa preocupação estaria relacionada ao fato de os irmãos Batista estarem no centro da atual crise política. Para fechar acordo com o MPF, Joesley gravou conversas com políticos, como o presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves. As gravações foram reveladas no dia 17 de maio e desestabilizaram o governo federal.
Com a aquisição, Cambuhy e Itaúsa passam a deter 54,24% do capital total da Alpargatas. No fato relevante divulgado ontem, os compradores disseram que pretendem fazer uma oferta pública de ações para comprar mais papéis. Com 10% do capital total, o segundo maior investidor na Alpargatas – Silvio Tini – não teria interesse em vender seus papéis, segundo apurou o jornal O Estado de São Paulo. Há, no entanto, mais 34% das ações em negociação na Bolsa paulista, a B3.
De mão em mão
Diante da necessidade de fazer caixa, os donos da JBS não chegaram a ficar dois anos com o controle da Alpargatas. O negócio é considerado uma das poucas empresas brasileiras de atuação global – mais de 50% da receita da companhia vêm de fora do País. A J&F havia adquirido a dona da Havaianas em novembro de 2015, por R$ 2,7 bilhões.
A J&F socorreu, à época, outro grupo em dificuldades: a Camargo Corrêa, que precisava angariar recursos para obrigações do acordo de leniência que havia fechado no âmbito da Operação Lava Jato. O grupo dos irmãos Batista fez uma oferta “relâmpago”, pegando de surpresa vários fundos de investimento que negociavam o ativo. Uma fonte afirmou que a J&F adquiriu a Alpargatas sem processo de due dilligence, que inclui uma análise profunda dos dados da companhia.
Na época, fontes avaliaram que a J&F pagou um preço considerado alto pela Alpargatas. Posteriormente, foi revelada a informação de que o negócio foi totalmente financiado pela Caixa Econômica Federal.
Durante o período em que ficou à frente da Alpargatas, a intervenção da J&F foi “light”, de acordo com fontes. A empresa manteve a equipe de gestão que administrava a companhia no tempo da Camargo Corrêa.
Diversificação
A compra da Alpargatas ocorre em meio à estratégia da Itaúsa de diversificar seu portfólio. Em sua mira estão negócios maduros, com fluxo de caixa e que paguem dividendos, como é o caso da Alpargatas. “Pensamos em diversificação pequena de investimentos, de alguns bilhões de reais, e não de dezenas. Não pensamos em investimento extremamente grande”, destacou o presidente da Itaúsa, Alfredo Egydio Setubal, em conversa com analistas, no fim de 2016.
Hoje, a Itaúsa tem em sua carteira ativos como Duratex, Elekeiroz e Itautec, cujo controle foi vendido à Oki Brasil em 2013. A holding do Itaú já anunciou que pretende zerar sua participação na empresa de tecnologia.