A Restaurant Brands International (RBI), controladora do Burger King, está estudando uma oferta pela Domino’s Pizza, pessoas com conhecimento do assunto disseram ao Brazil Journal. A modelagem da oferta está adiantada.
A aquisição completaria uma lacuna importante no portfólio de marcas da RBI — que vende hambúrgueres no Burger King, frango no Popeyes Louisiana Kitchen, e café no Tim Hortons — e marcaria a entrada da empresa da 3G Capital num dos segmentos que mais ganham mercado na indústria de fast food.
Ao analisar potenciais alvos de aquisição, a RBI também considerou a Yum Brands, mas a Domino’s — além de ser um alvo menor e mais digerível — tem um apelo adicional: nos últimos anos, inovou dramaticamente seu modelo de negócios, abraçando a tecnologia como nenhuma outra empresa do setor.
Hoje, mais de 60% dos pedidos de pizza da Domino’s nos EUA são feitos por canais online, e há 11 formas de se pedir uma pizza da empresa, incluindo mensagem de texto, Twitter, Facebook Messenger, Apple Watch, Alexa da Amazon, Google Home, Samsung TV, Ford Sync, além do próprio app da Domino’s, entre outros.
Se a oferta acontecer, a RBI — que como toda empresa 3G é mais conhecida pelo corte incessante de custos — também estará comprando crescimento. A Domino’s lidera — de longe — o crescimento de vendas do setor de ‘quick-service restaurants’ nos EUA. De 2010 ao terceiro trimestre de 2017, as vendas no conceito mesmas lojas da Domino’s subiram, na média, 8% ao ano. O Starbucks, a segunda empresa que mais cresceu, aumentou as vendas em 6%. Em seguida vêm Taco Bell, McDonald’s, Dunkin Donuts, Wendy’s e Burger King, com um crescimento de cerca de 1,5% no período.
Na sexta-feira (16), a Domino’s valia US$ 9,6 bilhões na Bolsa de Nova York; a RBI valia US$ 28 bilhões.
A potencial oferta da RBI vem num momento de transição para a Domino’s. No mês passado, o CEO J. Patrick Doyle anunciou que vai deixar o cargo no final de junho. O novo CEO será Richard ‘Ritch’ Allison, que hoje preside a Domino’s International.
Ao longo dos últimos oito anos, Doyle foi o condutor do turnaround ambicioso que fez da Domino’s a inveja do setor de fast food. O processo começou em 2009, quando a Domino’s reformulou suas receitas para melhorar o sabor do produto. Na época, Doyle lavou a roupa suja numa campanha publicitária que mostrava as críticas dos consumidores à pizza da companhia. Num tweet, um consumidor dizia que a pizza tinha “gosto de papelão” e que “pizza de forno microondas é muito superior.” Outros reclamavam do uso de “queijo processado”, e que o molho da companhia tinha gosto de ketchup.
Na época, Doyle reconheceu que a pizza da Domino’s “não tinha um bom gosto bom” e que “os dias de tentar dourar a pílula acabaram”.
Foi uma aposta ousada, mas o que veio em seguida exigiu ainda mais coragem: uma transformação cultural da Domino’s que, nas palavras de um executivo da empresa, passou de uma pizzaria com algumas vendas online para “uma empresa de e-commerce que vende pizza.”
Uma das primeiras empresas de alimentos a lançar pedidos online, a Domino’s dobrou a aposta em 2010 ao decidir que a única maneira de criar uma plataforma de pedidos online seria desenvolvê-la dentro de casa. Foi então que a empresa começou a montar uma área de tecnologia e gerenciar esse negócio internamente, segundo o Digiday.
A geração de valor foi brutal. Em março de 2010, a ação da Domino’s negociava a US$ 14. Hoje, negocia a US$ 220. A ação se valorizou mais que a maioria dos gigantes de tecnologia no período.
A Domino’s opera cerca de 14.400 lojas em 85 países e entrega mais de 1 milhão de pizzas por dia. (O ’topping’ mais popular? Pepperoni.)
O crescimento da empresa fora dos EUA tem sido arrebatador: até o terceiro trimestre de 2017, a divisão internacional computava 95 trimestres consecutivos de crescimento de vendas no conceito ‘mesmas lojas’. Entre 2012 e 2016, enquanto a Pizza Hut abriu 2.651 lojas fora dos EUA, a Domino’s abriu 3.605. Mais da metade das lojas internacionais da Domino’s são operadas por quatro grandes master franqueados, todos listados em Bolsa.
Nos EUA, a Pizza Hut faturou US$ 5,8 bilhões contra US$ 5,5 bilhões da Domino’s em 2016, mas analistas acham provável que a companhia tenha ultrapassado a Pizza Hut em 2017. Os resultados serão conhecidos amanhã, quando a empresa reportar seu quarto trimestre.