Varejistas questionaram a estratégia e o modelo de operação dos shopping centers no país, durante a BR Week, no final de junho, evento do setor de varejo, com críticas à expansão desordenada dos empreendimentos e às dificuldades de negociação com os operadores.
Para o presidente da Chilli Beans, Caito Maia, há pouca flexibilidade nas negociações com lojistas e as empresas só reagem quando o varejista ameaça fechar as lojas e abrir pontos em rua. “Criamos um modelo de loja de rua novo, numa tentativa de expandir mais para esses locais […]. Acontece que hoje, só se eu falo que vou fechar loja em shopping é que eles não me deixam fechar e querem conversar. O que digo é que Deus ilumine a cabeça desses donos de shoppings, ou nós vamos ter que achar outro lugar para crescer”, afirmou ele.
Questionado sobre o assunto no evento, o empresário Flávio Rocha, presidente da Riachuelo, disse que houve um crescimento “muito acelerado e desorganizado” de shoppings no país nos últimos anos. “Houve um boom de shoppings, que foram ficando mal distribuídos, com uma guerra de egos entre eles, abrindo muitos [centros comerciais], especialmente nesse eixo Rio de Janeiro-São Paulo”, disse.
“Um abria um shopping o outro [rival] ia lá e abria também, e isso foi destruindo valor de forma brutal [no setor]”, afirmou.
“O que tentamos fazer é avançar numa análise muito minuciosa de abertura de pontos e ter uma relação muito franca com os ‘shoppeiros’, compartilhando informações, inclusive de custo de ocupação, para ver se avançamos nessa relação”, disse Rocha.
A piora do ambiente econômico, com retração no consumo no país, obrigou shoppings e lojistas a renegociarem condições de contrato, especialmente após 2016, com descontos em aluguel e despesas sendo acordado entre as partes por período médio de seis meses. A alta da inadimplência de lojistas levou os grupos de shoppings a buscar esse caminho, mas alguns empreendimentos começam a acenar com hipótese de cortar esses descontos ainda neste ano.
Pesquisa apresentada na BR Week, em São Paulo, elaborada pela PwC, mostrou a pressão maior sobre o formato de loja física no país, foco central da operação dos shoppings.
Houve uma perda da força da loja física neste período de recessão econômica, em relação à venda por smartphones. Varejistas têm sido unânimes em afirmar que a função das lojas físicas têm passado por uma revisão com o avanço das mídias digitais no mundo, e o aprofundamento das crises acaba acelerando esse processo de mudanças.
Segundo a pesquisa da PwC, os canais de venda como lojas tradicionais, tablets e computadores têm sido menos usados em compras, de forma geral, de acordo com um índice de frequência de compra medido anualmente pela PwC. A exceção foi o smartphone. Foram ouvidas 1.016 pessoas entre agosto e setembro, e a frequência de uso dos celulares em compras subiu de 30% para 31% entre 2015 e 2016. Na loja física, caiu de 58% para 55% o número de pessoas que informa comprar mensalmente no canal. A pesquisa foi apresentada pelo sócio da PwC Brasil, Hércules Maimone.
De acordo com o levantamento, mais da metade dos brasileiros (53%) pesquisa produtos na internet antes da compra (média mundial é 44%) e 45% dos consumidores no país comparam os preços em sites (versus taxa no mundo de 38%). Além disso, 47% já compraram alguma vez no site da Amazon no Brasil – a operação local vende basicamente livros, enquanto no exterior há uma ampla opção de itens.