No final de agosto, a Amazon iniciou no Brasil a venda de roupas e itens esportivos em seu marketplace, dando início a uma importante expansão no mercado nacional. Para especialistas, isso foi só o início de uma transformação do negócio brasileiro em uma plataforma bem mais próxima da encontrada nos Estados Unidos, a chamada “loja de tudo”. Os próximos passos por aqui incluem a venda no modelo 1P (ou seja, comercializado pela própria Amazon, em vez de terceiros) de eletrônicos, brinquedos e itens de saúde e higiene pessoal, disseram os analistas Fabio Monteiro e Luiz Guanais, do BTG Pactual, em relatório recente. Eventualmente, os investimentos no Brasil podem significar inclusive a chegada do Prime, programa de fidelidade que já contém mais de 100 milhões de assinantes e que oferece benefícios como entrega expressa e descontos.

A expectativa pode fazer parecer que a gigante do e-commerce já está nadando de braçada no mercado brasileiro. Mas os números mostram outra realidade: o plano da gigante de Jeff Bezos, cotada para ser uma das primeiras empresas com valor de mercado de US$ 1 trilhão depois da Apple, é se espalhar aos poucos em um país onde a realidade é extremamente diferente de seu cliente principal – e o caminho, muito mais tortuoso.

Não é à toa a cautela no Brasil: a Amazon aprendeu na marra em outros países emergentes que a pressa não ajuda no crescimento sustentável. Na Índia, a regulamentação local obrigou que a norte-americana investisse US$ 5 bilhões para contornar acesso insuficiente à internet e uma estrutura logística falha. Outro enorme problema é a proibição da manutenção de estoque no país em benefício à indústria local. Enquanto isso, na China, a Alibaba e outros players locais passaram na frente da gigante: com market share de 0,9%, a Amazon é apenas a 8ª na indústria de marketplaces do país.

Passos de formiga

Para os analistas, é pouco provável que a Amazon invista em aquisições e fusões no mercado nacional, simplesmente porque o perfil da empresa é de só comprar outros negócios quando a tecnologia ou a equipe agreguem mais às operações do que uma simples expansão. Por isso, a aposta é de crescimento orgânico – o que multiplica os desafios.

Globalmente, a frente 1P da Amazon possui 74 marcas e 6.825 produtos em países como EUA, China, México e Índia, além da Europa. No Brasil, a empresa estaria desenvolvendo infraestrutura para aplicar essa frente de crescimento, mas encontra duas dificuldades principais, de acordo com o BTG: estrutura de logística insuficiente e a complexidade do sistema fiscal nacional.

Para contornar as dificuldades logísticas, a empresa estaria negociando, desde fevereiro, a transferência de suas operações de entregas para o complexo de galpões da Prologis no município de Cajamar (SP), ambiente que já abriga empresas como Walmart e Samsung.

Com este tipo de investimento e uma estimativa que o e-commerce brasileiro alcance R$ 200 bilhões em 2025 (ante R$ 65 bilhões em 2017), há espaço para que a Amazon cresça por aqui. Ainda assim, o banco não acredita na liderança de Jeff Bezos por aqui. “Ainda vemos o MercadoLibre como o vencedor na América Latina; e a B2W, ao lado do Magazine Luiza, como os ‘vencedores brasileiros’”, escreveu o banco, estimando que a Amazon terá de se esforçar para um market share de dois dígitos tímidos.

 

Fonte: Newtrade
Amazon prepara os próximos passos para tentar ser gigante no Brasil

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